“O diagnóstico é a maneira mais eficaz de limitar alguém.”
Foi com essas palavras que o apresentador Marcos
Mion revelou através do Facebook a
singularidade de Romeo, seu primogênito.
Segundo Mion, o menino possui “dificuldades de
desenvolvimento” e se encaixa numa faceta do autismo,
embora se encontre na categoria NOS, Not
Otherwise Specified (“Sem Outras Especificações”, em português)
da doença e seja, em suma, um caso sem diagnóstico específico.
Com doses cavalares de sensibilidade e doçura, Mion emocionou a
seus seguidores e deu origem a um boom de
testemunhos e manifestações de solidariedade que estão varrendo as
redes sociais.
O comandante do Legendários classificou Romeo
como “um presente de Deus” e agradeceu
pela “felicidade de aprender e conviver com um ser humano
tão evoluído”.
Mion, com a exatidão amorosa (ou seria
com o “amor exato”?) com a qual somente os autênticos são
agraciados, precisou somente de algumas palavras simples para falar
sobre conceitos profundos.
Escreveu pouco, mas falou muito.
Destaco sua breve e espontânea reflexão sobre a palavra
“diagnóstico” e ouso ampliá-la um pouco mais. Ouso dizer que
todos, do Romeo a mim, do Mion a você, sofremos com diagnósticos
incômodos.
Não me refiro, porém, àqueles que são dados por médicos. Falo
de diagnósticos que não vêm de exames, mas de palavras. Falo
daqueles que não são impressos no papel, mas na alma.
“Você é burro!”, diz o pai rígido.
“Você é inferior!”, diz o patrão exigente.
“Você é chata!”, diz o marido ausente.
Quem nunca recebeu diagnósticos desse gênero? Quem nunca foi
oprimido, humilhado ou diminuído por um deles?
Rótulos deveriam se limitar às latas de salsicha, mas,
infelizmente, ocupam grandes lotes em nossos corações.
A mensagem de Mion, porém, traz consigo uma verdade poderosa:
“Diagnósticos são inevitáveis, mas não imutáveis”.
É impossível impedir que eles cheguem, mas é possível
mandá-los embora. O sorriso de Romeo nos prova que a algema que
nos liga à opinião alheia está destrancada. Podemos ser
livres. E esta liberdade, aliás, reside em três letras:
NOS, Not Otherwise Specified.
O “NOS” que impede o diagnóstico exato de Romeo ilustra
aquele que deveria ser nosso ideal de vida. Romeo transita por suas
limitações sem o peso de um rótulo. Devemos transitar com a mesma
leveza pelas tristezas e decepções da vida.
Ao tomar posse do “NOS” da alma, você afirma querer ser quem
é, abandonando o peso de viver como “quem dizem que você é”.
Sob este ângulo, a receita da felicidade parece simples: Menos
peso, mais sorrisos. Menos culpa, mais compreensão. Menos
diagnósticos, mais amor.
Mion, aliás, abandonou o próprio diagnóstico que havia recebido
de mim e de boa parte dos telespectadores, que o viam como um mero
“palhaço”. Com uma simples postagem, o apresentador deixou de
ser “Mion” e passou a ser “Marcos”.
Passou a ser um de nós.
Nós que, tal qual Romeo, precisamos vagar pelos “NOS” de uma
vida que está longe de ser perfeita, mas perto de ser alegre. A
Romeo e a nós cabe uma única escolha: Tropeçar nas limitações ou
ser impulsionado por elas.
Romeo, pelo que disse o pai, já fez a escolha dele. Qual será a
sua?
***
Ao fim de sua mensagem, Marcos revela uma cena familiar.
“Como uma vez ele [Romeo] me disse: ‘Pai, eu sou seu
irmão’. Sim, filho, você é meu irmão de alma. Meu
maior orgulho”, escreveu o apresentador.
Não é extremamente parecido com o que Deus diz a nosso respeito?
Mesmo conhecendo nossos diagnósticos, Ele nos fala sobre cura.
Mesmo conhecendo nossos defeitos, Ele insiste em nos perdoar.
Mesmo conhecendo nossas limitações, Ele nos convida para ir às
montanhas.
Marcos olha para Romeo e não vê o que lhe falta, mas o que lhe
sobra. Deus faz o mesmo conosco.
Nós, aqueles que sorriem sempre e não desistem nunca, somos o
maior orgulho de um Deus que enviou seu Filho para ser nosso Irmão.
E assim, livres de diagnósticos, podemos, assim como Marcos e
Romeo, escrever uma história onde a amargura saiu correndo ao
avistar o amor.
Fonte: Arthur Vivaqua.
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